Tuesday, August 29, 2006

80 anos


Olho ao meu redor e o que eu vejo não é nada animador, estou no antigo escritório do meu pai, faz tanto tempo que eu não venho aqui,que eu nem me lembro com era antes. Agora eu só vejo uma sala de paredes amarelas, ou de um branco amarelado pelo tempo. Arrasto a antiga poltrona que está caindo aos pedaços para mais perto da janela, sento e fico a observar o jardim. Ah o jardim, as minhas poucas lembranças dessa casa na maioria se passam no jardim, esse jardim que em tempos passados fora tão cheio de vida e agora está tomado pelo mato. Ah bons tempos! Estou completando 80 anos hoje e, decidir vir ah antiga casa da minha família, desde os 15 anos que eu não venho aqui, como o tempo passa.Estou velho, aprendi muita coisa nesses anos todos, perdi vários amigos e ganhei também, tive muitos amores, algums duraram anos outros duraram algums minutos, resumindo vivi bastante. Minha saúde é otima estou com 80 anos e me sinto forte, jovem. Não tenho do que reclamar da vida, tenho sim, acho que o meu tempo já se esgotou neste mundo. Ah quantas vezes eu não desejei uma doença, não uma doença qualquer, mas, sim uma doença dostoievskiana, que me faça cair de cama delirando, que me faça sentir a morte, saber que ela está do meu lado pronta para me levar, que me faça ter consciência de como a vida é frágil, que me faça sentir medo da morte. Mas não, eu fui privilegiado com uma saúde de ferro, nunca tive nada a mais do que uma febre passageira. Mas eu sei que eu sou senhor da minha vida, e por isso olho para a minha mão e vejo o revólver que eu comprei a muito tempo atrás. Nunca o usei, mas sempre o mantive em bom estado, talvez para usá-lo num dia como esse, o dia em que eu decidir acabar com a minha vida. Há 80 anos eu nasci nesta casa e exatamente 80 anos depois eu morrerei nesta mesma casa. Estou esperando o momento certo de acabar com a minha vida, mas qual será esse momento? Como eu saberei que é chegada a hora ? Eu não sei. E se eu não me matasse? Será que eu viveria por mais 80 anos? Não, olho para a minha mão e ela se move, se move como se tivesse vida própria ou é a arma que tem vida própria? Encosto o cano da arma na minha testa, engraçado pensei que o metal estaria gelado, minha mão treme, minha vista fica embassada. Droga seja Homem e acabe logo com isso porra! Meu Deus estou gelado, porque morrer agora? Mas eu tenho que fazer isso, eu decidi, mas eu posso voltar atrás? Não, não posso, dou meu ultimo suspiro e aperto o gatilho.

Thiago PAcheco Alecrim--"o Clone"

5 Comments:

At 2:00 PM, Anonymous Anonymous said...

Belo texto, ilustre colega.

 
At 2:12 PM, Anonymous Anonymous said...

Meu caro amigo clone, seu primeiro texto
está bem carregado de beleza e sentimento, belíssima estréia e
que venham os próximos!!

 
At 4:10 PM, Blogger Guigus said...

This comment has been removed by a blog administrator.

 
At 4:12 PM, Blogger Guigus said...

Thiagão, parece que o tiro resvalou em mim, viveremos mais 80 anos ou não, depende dos nossos feitos aqui, quantas pessoas eles influenciaram, em quantas cabeças entraram... penso que a vida é eterna, o que se vai são as formas

 
At 10:49 AM, Anonymous Anonymous said...

Apesar de triste...
Mt bom Clonim!!
Parabéns!
Bjo°

 

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