Thursday, August 31, 2006

RESOLUTO DA MINHA EMBRIAGUEZ

A minha embriaguez
é verde
jamais branca,
nunca branda
é apenas um doce engano,
um elixir, um magma...
A minha embriaguez
é denotação,
uma ação, um beijo de língua,
uma vitória que se rege.
A minha embriaguez
é profanação divina
um cristal que prisma tudo
obra prima
primeira vez...

Ninguém tem nada que se meter
na minha embriaguez,
ela é egoísta,
ela é dos outros,
minha embriaguez é desnecessária de qualquer líquido...

Basta apenas ter um amigo.


Matheus Dourado

Tuesday, August 29, 2006

80 anos


Olho ao meu redor e o que eu vejo não é nada animador, estou no antigo escritório do meu pai, faz tanto tempo que eu não venho aqui,que eu nem me lembro com era antes. Agora eu só vejo uma sala de paredes amarelas, ou de um branco amarelado pelo tempo. Arrasto a antiga poltrona que está caindo aos pedaços para mais perto da janela, sento e fico a observar o jardim. Ah o jardim, as minhas poucas lembranças dessa casa na maioria se passam no jardim, esse jardim que em tempos passados fora tão cheio de vida e agora está tomado pelo mato. Ah bons tempos! Estou completando 80 anos hoje e, decidir vir ah antiga casa da minha família, desde os 15 anos que eu não venho aqui, como o tempo passa.Estou velho, aprendi muita coisa nesses anos todos, perdi vários amigos e ganhei também, tive muitos amores, algums duraram anos outros duraram algums minutos, resumindo vivi bastante. Minha saúde é otima estou com 80 anos e me sinto forte, jovem. Não tenho do que reclamar da vida, tenho sim, acho que o meu tempo já se esgotou neste mundo. Ah quantas vezes eu não desejei uma doença, não uma doença qualquer, mas, sim uma doença dostoievskiana, que me faça cair de cama delirando, que me faça sentir a morte, saber que ela está do meu lado pronta para me levar, que me faça ter consciência de como a vida é frágil, que me faça sentir medo da morte. Mas não, eu fui privilegiado com uma saúde de ferro, nunca tive nada a mais do que uma febre passageira. Mas eu sei que eu sou senhor da minha vida, e por isso olho para a minha mão e vejo o revólver que eu comprei a muito tempo atrás. Nunca o usei, mas sempre o mantive em bom estado, talvez para usá-lo num dia como esse, o dia em que eu decidir acabar com a minha vida. Há 80 anos eu nasci nesta casa e exatamente 80 anos depois eu morrerei nesta mesma casa. Estou esperando o momento certo de acabar com a minha vida, mas qual será esse momento? Como eu saberei que é chegada a hora ? Eu não sei. E se eu não me matasse? Será que eu viveria por mais 80 anos? Não, olho para a minha mão e ela se move, se move como se tivesse vida própria ou é a arma que tem vida própria? Encosto o cano da arma na minha testa, engraçado pensei que o metal estaria gelado, minha mão treme, minha vista fica embassada. Droga seja Homem e acabe logo com isso porra! Meu Deus estou gelado, porque morrer agora? Mas eu tenho que fazer isso, eu decidi, mas eu posso voltar atrás? Não, não posso, dou meu ultimo suspiro e aperto o gatilho.

Thiago PAcheco Alecrim--"o Clone"

Thursday, August 24, 2006

Parágrafo Perdido

Quando o meu amigo Thiago chamou-me para escrevermos em um blog, imediatamente o escritor em mim adormecido, ou moribundo, levantara de seu estado sepulcral. Escrever! Exercício dificílimo, mas prazeroso. Penso, planejo, desenho os contos e artigos e rezo... , rezo para que esses escritos sejam expulsos de seu Éden metafísico e caiam na lava infernal do papel. Papel, aliás, vítreo, cheio de pixels e luzes, fabricado na Coréia ou China. É melhor reinar num monitor do que serem escravos num céu de idéias cujo o teto são as raízes de meu cabelo.

Wesley dourado cordeiro

Ssa. 24/08/2006

Wednesday, August 23, 2006

Todas as cartas de amor são ridículas.....


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21-10-1935


Tuesday, August 22, 2006

A bela ninfa do bosque sagrado


Hollywood, novembro de 1946: A noite é alta, Ciro's terminou e estamos todos - um destacado grupo de "estrelas" e "astros", entre os quais sou um modesto meteorito - na casa de Beverly Hills de Herman Hover, o notório dono da famosa boate de Sunset Boulevard. Vou nas águas de minha amiga Carmen Miranda, com quem saí e a quem, como um cavalheiro que sou, depositarei em sua vivenda de Bedford Street. Lá estão também as figuras ciclópicas de José do Patrocínio de Oliveira, o não menos conhecido Zé Carioca, e seu sonoplástico parceiro Nestor Amaral, ambos homens dos sete instrumentos, sendo que este é capaz de tocar o Hino Nacional batendo com um lápis nos dentes e o "Tico-tico no fubá" mediante pequenos cascudos acústicos aplicados no cocuruto - tudo diante de um microfone, bem entendido.
Carmen está quieta, sentada no braço de minha poltrona. Tornamo-nos rapidamente grandes amigos. Celebramo-nnos com o devido foguetório quando nos encontramos e uma vez juntos temos assunto para conversas intermináveis, sempre salpicadas de história sobre seus inícios como cantora, que me encantam. Sua verve é inesgotável e ninguém imita como ela antigas situações marotas em que se viram envolvidos, nos primeiros contatos com o público, seus velhos companheiros Mário Reis, Francisco Alves e Ari Barroso, na fase renascentista do samba carioca. Aprendi a querer-lhe muito bem e admirar a coragem com que enfrenta, ela uma mulher toda sensibilidade, a tortura de se ter tornado um grande cartaz comercial para Hollywood e de ter de sorrir à boçalidade, com raríssimas exceções, dos produtores, diretores, cenaristas, cinegrafistas, iluminadores e demais mão-de-obra dos estúdios. : Mas hoje Carmen está quieta. Seus imensos olhos verdes se horizontalizam numa linha de cansaço, quem sabe tédio, daquilo tudo já "tão tido, tão visto, tão conhecido", como diria Rimbaud. Cerca de nós, o ator Sonny Tuffs toca um piano mais bêbedo que o do genial Jimmy Yancey nas faixas em que foi gravado sem saber. Depois seu corpanzil oscila, ele se levanta só Deus sabe como e sai por ali cercando frango, não sem antes abraçar à passagem a atriz Ella Raines, que compareceu de noivo em punho e deixa-se estar com este a um canto, com um ar de Alicinha que só enganaria os drs. Sobral Pinto e Albert Schweitzer.
Numa poltrona a meu lado estira-se, com um viso suficientemente decomposto, o magnata Howart Hughes. Troco duas palavras com ele, mas o tedioso multimilionário e playboy, descobridor e bicho-papão de "estrelas", me parece muito mais interessado em Ella Raines - espécie de Grace Kelly de 1940, só que menos pasteurizada. Deixo-o, pois, à sua nova conquista, enquanto no meio da sala, Zé Carioca e Nestor Amaral "se viram" para chamar a atenção sobre os seus dotes de instrumentistas. Mas a pressão geral é grande e cada um procura cavar o pão da noite como pode, enquanto Herman Hover passeia com um ar de Napoleão em Marengo. Há propostas para um banho de piscina, para um concurso de rumba e outras trivialidades, mas ninguém topa mesmo porque o Sol (ou melhor "Ele", como dizem com o maior nojo meus amigos Américo e Zequinha Marques da Costa) já deve, contumaz ginasta matutino, estar pendurado à barra do horizonte para a sua atlética flexão de cada dia. O ambiente se está nitidamente desgastando em álcool e semostração.
Vou propor a Carmen irmos embora quando uma cortina se entreabre e surge uma mulher espetacular. Não creio que ninguém houvesse reparado, mas a mim ela me pareceu tão linda, tão linda que foi como se tudo tivesse de repente desaparecido diante dela.
Fiquei, confesso, totalmente obnubilado ante tanta beleza, muito embora essa beleza se movimentasse, por assim dizer, um pouco à base da dança a que chamam quadrilha: dois passinhos para diante e três para trás com direito a derrapagem. Mas o que o corpo fazia, o rosto desconhecia; pois esse rosto tinha mais majestade que Carlos Machado entrando no Sacha's. Ela olhou em torno com um soberano ar de desprezo e logo, dando com Carmen, tirou um ziguezague até ela, vindo postar-se no esplendor de todo o seu pé-direito justo diante de mim, coitadinho que nunca fiz mal a ninguém.
- Hey, Carmen - disse ela.
- Hey, honey - respondeu Carmen com o seu sorriso no 3.
- Gee, Carmen, I think you're wonderful, you know. I think you're tops, you know. Tops. You're terrific.
Para quem não sabe inglês, esse diálogo inteligente exprimia a admiração da moça por Carmen, a quem ela chamava de "do diabo", de "a máxima” e toda essa coisa. Passado o quê, dá ela de repente comigo lá embaixo, pobre de mim que tive bronquite em criança, e olhando-me por cima de suas pirâmides, fez-me a seguinte pergunta num tom de rainha para vassalo:
- Who are you? (- Quem é você?)
Declinei minha condição de modesto servidor da pátria no estrangeiro, o que não pareceu interessá-la um níquel. Em seguida, sem aviso prévio, ela debruçou-se a ponto de eu poder ver o algodãozinho que havia juntado no seu umbigo, pôs as mãos sobre os meus braços, trouxe o rosto até um centímetro do meu e cuspindo-me todo como devia fez-me a seguinte indagação:
- Do you think I'm beautiful? (- Você me acha bonita?)
Fiz-lhe os elogios de praxe. Ela esticou-se novamente e concordou comigo:
- You're right. I’m very beautiful. But morally, I stink! (- Você está certo. Eu sou muito bonita. Mas moralmente eu... como traduzir sem ofender tanta beleza, tirante os ouvidos do leitor? - não cheiro muito bem.)
Dito o quê, partiu como chegara, através da mesma cortina, para onde suponho houvesse um bar privado. Só sei que aquilo deu-me uma grande animação, a festa continuou até "Ele" raiar e eu acabei dançando com a linda moça, ela bastante mais alta do que eu, o que permitia ouvir-lhe bater o coração, de resto levemente taquícárdico. Antes de sair vi vários casais no Jardim que não se sabia mais quem era quem, vi Sonny Tuffs atravessado num sofá, vi coisas como só se vê em baile de carnaval. Festinha familiar, como diria a finada dona Sinhazinha.
Fora perguntei a Carmen se ela sabia quem era a deusa.
- É uma atriz nova que está entrando agora. Bonita, não é? Chama-se Ava Gardner.


Vinicius De Moraes

Monday, August 21, 2006

Primeira Mensagem

hehehehehehehehe !! Criei essa porra !!!